Conheça as desvantagens ambientais do glitter convencional e as alternativas para um carnaval sustentável
Por Cássia Rocha | Comunicação ABES-ES
O glitter é onipresente nos dias de folia, nos adereços, roupas, maquiagens, fantasias, sapatos, é possível notá-lo a todo tempo. Porém, o glitter e a purpurina são feitos de microplásticos, que não se decompõe no meio ambiente.
Como se sabe, o plástico é o maior poluente do oceano. O que você talvez não soubesse é que o glitter é um “microplástico”, por ser uma partícula desse material que mede menos de 5 milímetros. Durante o banho de quem usa os adornos, as partículas vão pelos ralos até chegar no oceano e, por serem muito pequenos, é praticamente impossível de recolher.
Ele é produzido a partir de placas de PET (Poli Tereftalato de Etileno, polímero termoplástico) ou PVC (Policloreto de polivinila, combinação de etileno e cloro), que são metalizadas com alumínio, e, depois, tingidas com cores diferentes. No fundo dos oceanos, esses plásticos podem ser incorporados na cadeia alimentar por animais marinhos, além de dificultar o processo de fotossíntese das algas.
Em entrevista ao jornal El País, Estíbaliz López-Samaniego, responsável pelo meio marinho na associação Vertidos Cero, ressalta ainda a capacidade que esses minúsculos plásticos têm de “absorver e acumular poluentes em sua superfície. São os mais perigosos, os persistentes”, destaca. Ele se refere à propriedade que o plástico tem de “atrair” compostos químicos que acabam aderindo a ele.
Esses pedacinhos de plástico têm capacidade de, no oceano, absorverem produtos tóxicos, como pesticidas, metais pesados e outros tipos de poluentes orgânicos persistentes (POPs), o que faz com que os danos à saúde da biodiversidade sejam muito maiores.
Alternativas
Apesar de todos os danos, deixar de brilhar no carnaval não é uma tarefa fácil. Se você é uma pessoa que não consegue viver sem glitter, existem alternativas com composição biodegradável para não prejudicar a natureza. Confira:
Pó de mica: este material é um brilho natural derivado de minerais naturais que são bem brilhantes e existem em diversas cores na natureza (dourado, prateado, branco, preto, marrom, roxo, verde e etc.). Esse material também é conhecido como pigmento em pó, e é muito utilizado na coloração de sabonetes e cosméticos. O produto é encontrado facilmente em lojas especializadas em produtos naturais.
A marca capixaba e vegana Organeba trabalha com um glitter à base de mica especial para maquiagem, que além de biodegradável, não agride a pele. “Nossa ideia, é que em breve, todos sejam adeptos a produtos menos nocivos ao meio ambiente”, afirma Amanda, idealizadora da marca. Os produtos da Organeba já têm um nicho bem definido de consumidores, “nossos consumidores são pessoas que buscam uma vida com menos produtos químicos no corpo, jovens que começaram a estudar o impacto ambiental de alguns produtos e biólogos”, destaca Amanda.
Para a idealizadora, a Organeba se destaca através do diferencial de poder comprar um produto nacional, sem nenhum tipo de crueldade animal, e sustentável. ”Atuamos por meio da conscientização sobre atos cotidianos – desde os produtos que utilizamos para escovar os dentes ao copo que muitas vezes descartamos”, acrescenta.
Filme de celulose: é produzido com a mesma técnica da purpurina convencional, é uma impressão metalizada cortada em micropartículas hexagonais. A diferença é que ele é impresso num filme de celulose de eucalipto renovável sendo assim, por ser feito de plantas, ele se degrada no contato com os microrganismos do solo e da água.
Uma das primeiras do Espírito Santo com viés sustentável, a marca de cosméticos naturais Concha & Folha comercializa o chamado “eco glitter” em diversas cores, produzidos a partir de filme de celulose, livre de plásticos e ingredientes tóxicos. Além disso, a produção de lixo obtido a partir dos produtos da marca é bastante reduzida: “promovemos um programa de logística reversa das nossas embalagens, no qual os clientes ganham desconto ao retornar as embalagens vazias para que possamos destinar a reciclagem”, ressalta Mariana Reis, uma das fundadoras do empreendimento.
Além de Mariana, a ideia da Concha & Folha também surgiu de Vládia, as idealizadoras eram colegas de faculdade e decidiram empreender mais tarde. Mariana afirma que “a Concha & Folha surgiu da vontade de cultivar relações mais positivas e saudáveis, com o ambiente, com parceiros e com a comunidade”.
Gelatina: dessa vez, a receitinha é caseira. Você vai precisar de pó de gelatina incolor ou gelatina vegetal e corante alimentício. Faça uma pasta misturando os ingredientes – se quiser adicione mica ao processo -, deixe secar integralmente em um recipiente que não grude (pode levar até 36 horas). Com a pasta totalmente seca, bata em um mixer ou liquidificador para reduzir os grãos e criar o efeito purpurina e pronto.
Apesar da possibilidade de “Faça Você Mesmo”, para os que vivem na correria ou não levam jeito para trabalhos manuais, a marca Caramujo oferece esse tipo de glitter artesanal prontinho em pequenos frascos, conhecidos como “Caramujinhos”. “A ideia aconteceu pouco antes do carnaval, quando resolvi me arriscar a fazer meu próprio glitter, um que voltaria à natureza sem causar tanto impacto negativo”, destaca Carmen Araújo, idealizadora do pequeno empreendimento.
“Na minha visão, os glitters biodegradáveis vieram para chamar a nossa atenção para o fato de que precisamos pensar no impacto que até pequenas coisas terão sobre a natureza, sejam estas coisas pontuais ou corriqueiras. Não é todo mundo que pesquisa sobre o que é feito o glitter. Muito menos sobre seu modo de produção ou em qual nível ele polui o planeta”, completa a idealizadora.
Evite gerar microplásticos
Microplásticos não existem apenas no glitter. Outros produtos como cosméticos e esfoliantes também podem conter plástico em tamanho reduzido, no formato microplástico. O recomendado é sempre conferir os rótulos, os componentes polyethylene ou polypropylene indicam a existência de microplástico no produto.
Vale lembrar também que todo produto feito de plástico, um dia será microplástico. Por isso, é importante evitar garrafinhas plásticas, canudinhos e outros itens que sejam desnecessários e que podem se degradar em microplásticos no oceano ou prejudicar animais de outras formas. Reutilizar e fazer o descarte correto também são de extrema importância para a preservação da natureza.
Com informações da BBC e eCycle
Cássia Rocha é graduanda em Comunicação Social
com habilitação em Jornalismo pela Universidade
Federal do Espírito Santo, técnica em Meio Ambiente
e estagiária de Comunicação na ABES -ES.