A colocação de troncos de madeira (eucalipto) ao longo do leito do rio está ajudando na recuperação de um dos principais afluentes do Rio Santa Maria da Vitória. Os resultados começaram a aparecer quase um ano após o início do projeto, em um trecho de 200 metros do Rio Mangaraí, em Santa Leopoldina: a água agora corre mais devagar, o número de peixes aumentou e os sedimentos que assoream estão sendo retidos.
O projeto é pioneiro em todo o país. Está sendo desenvolvido pela empresa Aplysia, que ganhou a licitação da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP) para inovação tecnológica, em parceria com a Seama. A tecnologia foi trazida da Inglaterra, após uma aplicação bem sucedida nos afluentes do Rio Tâmisa.
A técnica, basicamente, consiste na colocação dos troncos em pontos do rio. “Quando há mata ciliar, algumas árvores morrem e os troncos caem no rio. E são importantes porque fazem um trabalho de proteção, que é perdido com o desmatamento”, diz Tatiana Furley, coordenadora do projeto e diretora da Aplysia.
São estes troncos, amarrados com cabos de aço, que formam redutos no rio e conseguem reduzir a velocidade da água, o que permite uma infiltração maior no lençol freático. No Rio Mangaraí, a velocidade caiu de 0.37 metros/minuto para 0.29 metros/minuto, num trecho de 200 metros onde a técnica está sendo aplicada. E durante os períodos de enchente, eles ajudam na contenção.
Outra vantagem, além de oxigenar a água, é que os troncos também ajudam a reter os sedimentos que descem o rio e que assoream não só o afluente, mas também o rio principal. Os troncos conseguem segurar este material. Em um ponto do Rio Mangaraí, em dez meses foram retiradas 67 toneladas de sedimentos.
O projeto também permitiu um aumento da biodiversidade no rio. Nos remansos formados pelos troncos ficam acumuladas folhas e, com o tempo, um lodo se forma no local. Tudo isso se transforma em alimentos para a fauna, que aproveita o local para se recuperar da correnteza.
Em um local do rio, relata Tatiana, a força de entrada de um outro afluente, após a colocação dos troncos, acabou revirando o fundo do rio, trazendo à tona elementos que estavam soterrados. “Antes o rio era todo igual, o fundo era só areia. Peixe gosta das diferenças e de maior profundidade”, explicou Tatiana.
O projeto também ajuda na recuperação dos lançamentos de esgoto. Os troncos fazem a retenção e os efluentes acabam sendo decantados. “Ajuda a depurar”, explica Tatiana.
Bacia será alvo de outros projetos pilotos
O projeto Renaturalize – que contempla a colocação dos troncos no rio – pode vir a ser adotado em outros rios capixabas, como explica o secretário de Meio Ambiente, Aladim Cerqueira.
Ele explica que a técnica, considerada inovadora, começou a ser testada no Rio Mangaraí. “É uma bacia que será utilizada para a implantação de vários projetos pilotos”, explicou. E diante dos resultados iniciais positivos, já foi definido que ela será ampliada para outros trechos do Mangaraí. “Queremos ter certeza de que ela pode ser bem sucedida em várias áreas”, disse Cerqueira.
Por enquanto já se sabe, segundo ele, que a técnica é aplicável em outros rios, principalmente nos afluentes. “O que foi feito em 200 metros do rio trouxe resultados muito bons, em um projeto de baixo custo. Agora vamos ampliar o projeto no mesmo rio”, acrescentou.
Em paralelo, segundo ele, começam a ser implantados no início do próximo ano outros projetos, com recursos do Estado e do Banco Mundial. Dentre eles a construção de 200 quilômetros de estradas pavimentadas com um tipo de pavimentação que não lança sedimentos nos rios.
Também serão construídas 12 mil caixas secas e reflorestados mil hectares. Haverá a construção de fossas para evitar o lançamento de esgoto no rio e o treinamento dos produtores em manejo sustentável do solo. Haverá ainda uma gestão do cadastro ambiental rural.
Fonte: A GAZETA