Projeto, sem fins lucrativos, atua em 70% dos municípios do Ceará e beneficia cerca de 600 mil pessoas. A Cagece auxilia na capacitação das comunidades e presta manutenção nos pontos de tratamento e distribuição de água
Em grande parte do sertão cearense há irregularidade de chuva com pluviometria abaixo da média desde 2012. Para garantir o fornecimento de água nas comunidades, o uso de caminhões-pipa foi crescente neste período. No entanto, nas localidades onde há gestão dos projetos locais de abastecimento por meio do Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), o recurso hídrico atendeu à demanda.
Acopiara, na região Centro-Sul do Ceará, é um dos municípios que vem registrando chuvas escassas nos últimos anos. Na Vila Escuro, distante 6 Km do centro urbano, o abastecimento está regular para as 237 famílias da comunidade mesmo diante da escassez pluviométrica. “Temos água até o fim do próximo ano, mesmo que não chova”, diz o presidente da Associação de Moradores, Reginaldo Martins.
Na localidade, a fonte de água é de um açude de uso comunitário, distante 3 Km, da comunidade. O sistema local de abastecimento, implantado com recursos do projeto São José e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), dispõe de caixa d’água para 32 mil litros. “Quando o motor queima ou apresenta defeito, eles já repõem, fazem manutenção e o sistema só fornece água tratada”, explica Martins. “Temos um operador na própria comunidade”.
Os moradores estão satisfeitos com o modelo de gestão. O agricultor, Josué Francisco de Souza, conhecido por Dié, mostra a água saindo na torneira de casa. “Aqui tá melhor que na sede do município, onde falta água”, compara. “O sistema vem funcionando muito bem”. As famílias pagam a taxa de consumo, segundo medição do hidrômetro ao custo médio de R$ 12,00 por 10 mil litros.
Com este exemplo de sucesso, a solução encontrada por muitas comunidades foi transferir o gerenciamento do abastecimento de água para o Sisar.
A coordenação do programa destaca o impacto que o modelo gerencial trouxe neste período de estiagem. “Onde não tem Sisar, o carro-pipa tem que esta presente o ano todo”, observa a gerente de Saneamento Rural da Cagece, Otaciana Ribeiro.
Os sistemas administrados pelo Sisar dispõem de rede de distribuição de água para as casas. “Chafariz é uma coisa do passado”, pontua Otaciana Ribeiro. No Ceará, são 1.600 comunidades atendidas e cerca de 600 mil pessoas beneficiadas. “Há também o ganho na saúde dos moradores porque a água é filtrada e tratada com cloro”.
A Cagece ajuda a fazer o planejamento estratégico e cria metas. Na área técnica, treina o pessoal para o tratamento de água e para a operação do sistema. A partir daí, as representações do Sisar realizam a manutenção do sistema e capacitação social, enquanto as associações filiadas operam o sistema localmente.
O Sisar recebe financiamento do Banco alemão KFW, por meio do programa “Águas do Sertão” e prevê liberação em breve de 70 milhões de euros. Para receber o recurso, o município tem de aderir ao Sisar.
Nos anos mais críticos de escassez de chuva – 2016 a 2018 -, a coordenação do programa mostra que apenas 3% das localidades geridas pelo Sisar sofreram restrição no fornecimento de água e a maioria é localizada na região do Banabuiú.
Início
Embora só agora tenha sido disseminado, o Sisar foi implantado há 23 anos e a primeira experiência começou em Sobral, na região Norte do Estado. Na época, técnicos do banco KFW avaliaram que sistemas locais de abastecimento de água que foram financiados e construídos estavam sucateados em pouco tempo. As comunidades não tinham recursos e nem conseguiam fazer a manutenção dos projetos.
Atuação
Neste contexto, surgiu o Sisar como organização não governamental, apoiada pela Cagece. A gestão tem três linhas de atuação – administrativa, técnica e social. Há reuniões regulares com as associações de moradores para avaliação. O projeto tornou-se referência para outros estados com modelo recomendado também pelo Banco Mundial.
Em Iguatu, na região Centro-Sul, os moradores da localidade de Cavaco decidiram aderir ao Sisar, deixando a gestão do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). “Foi bem melhor por ter mais assistência quando dá defeito”, observa o presidente da associação de moradores, José Pereira.
A localidade possui 51 famílias atendidas com rede de distribuição. “A gente aqui sofreu muito sem água ou carregando balde na cabeça e em burro, mas agora melhorou cem por cento”, reforça o agricultor José Barbosa.
Fonte: Diário do Nordeste