Poluição fica ainda mais exposta e grave com a seca
Algo salta ao olhar de quem navega pelo Rio Santa Maria da Vitória, no trecho que ele percorre o município da Serra: além de áreas completamente secas, há muito lixo. Garrafas, plástico e até uma geladeira flutua no manancial que, junto com o Rio Jucu, é responsável pelo abastecimento da Grande Vitória, onde vive mais da metade da população do Estado.
A equipe da TV Gazeta fez o percurso no rio e o lixo que encontrou pelo caminho estava bem perto do ponto onde a Cesan faz a captação de água, na região de Queimado.
Já no começo do caminho, um outro contraste visual: a vegetação secou e o que se vê é um muro de pedras. É o enrocamento construído pela Cesan para aumentar o volume de água naquela região e assim garantir água suficiente para ajudar a abastecer a Grande Vitória.
Um muro que hoje é visível porque o rio já não tem força – e nem água – para superar a barreira e chegar ao mar. Com isto, a água do mar aliada ao sol forte acaba afetando a vegetação de mangue da região, que hoje está completamente queimada.
E não são só os moradores da Grande Vitória que sofrem com a falta d’água. As espécies de peixes que costumavam subir o rio para se reproduzir podem desaparecer a longo prazo.
Segundo o oceanógrafo Paulo Rodrigues, a região é uma área de berçário, responsável por grande parte das espécies do rio. Ele explica ainda que 78% dos peixes entram neste estuário marinho para se reproduzirem. “Haverá um impacto econômico também, além do ambiental. O ecossistema está sendo todo afetado e isso pode causar problemas ainda maiores no futuro”, destaca.
A extinção das espécies naquela região pode acontecer a longo prazo, mas encontrar peixes no local já é raro. “Percebi que algumas espécies estão acabando, como o robalo, a carapeba e até mesmo a tainha, que subia o rio com frequência”, conta o técnico de eletrotécnica Renato Fuentes, que pesca na região há 35 anos.
Esgoto
Além do lixo, a qualidade da água do Rio Santa Maria da Vitória tem piorado em decorrência do esgoto que recebe de várias cidades por ele percorridas. E no período de seca, com as baixas vazões que ele tem registrado, os efluentes não tratados acabam não sendo diluídos. E o mau cheiro fica em muitos pontos.
Desmatamento e degradação ocorre há anos
Não é de hoje que o Rio Santa Maria sofre. Há muitos anos, ele é vítima de processos como o desmatamento de suas margens, assoreamento, degradação causada por lixo e descarte de esgoto.
Problemas como esses acirram com a seca que piorou nos últimos três anos. Já que a diminuição no volume da água faz com que sua velocidade diminua.
Roberto Dias Ribeiro, membro do órgão responsável por realizar o enquadramento e o planejamento ordenado dos recursos hídricos das bacias hidrográficas do Rio Santa Maria da Vitória, assegura que a preocupação só aumenta. “Com essa questão da seca, tudo que está sendo captado é usado para o abastecimento. Isso certamente vai causar algum impacto. Tanto para a questão do rio quanto para a questão do manguezal”, conta o secretário-executivo do Comitê da Bacia do Rio Santa Maria da Vitória.
O que tem ajudado a garantir o pouco volume de água existente é a represa Rio Bonito, que também está com sua capacidade comprometida. Há uma semana, o que havia de água no local representava apenas 24% de sua capacidade. Dela, saem todos os dias cerca de 2.500litros/segundo, e chegam apenas mil litros por segundo.
Autores:
Louisy Hyannis
André Falcão
Fonte: A GAZETA