Saneamento básico: entenda mudanças previstas no marco regulatório do setor

Presidente Michel Temer anunciou ‘modernização’ da lei que regulamenta tratamento de esgoto. Especialistas comentam proposta.

Esgoto na Rua Régis Pacheco, no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, em Salvador (Foto: Alberto Luciano/TV Bahia)
Esgoto na Rua Régis Pacheco, no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, em Salvador (Foto: Alberto Luciano/TV Bahia)

O governo federal encaminhou à Casa Civil o texto que prevê uma mudança no marco regulatório do setor de tratamento de água e esgoto do país. A previsão é de que a “minuta de proposição legislativa” seja enviada ao Congresso Nacional já na próxima semana. A informação foi confirmada ao G1 nesta segunda-feira (26) pelo Ministério das Cidades.

A atualização sobre o status do processo ocorre uma semana após o anúncio, feito pelo presidente Michel Temer, de um projeto para “modernizar” a legislação do setor. A afirmação foi feita durante a a cerimônia de abertura do Fórum Mundial da Água, em Brasília, na segunda (19) (veja abaixo).

Na época, Michel Temer não detalhou quais pontos do marco regulatório estão sujeitos à mudança. No mesmo dia, o G1 procurou o Palácio do Planalto para comentar o assunto, mas a Presidência da República disse que não iria se posicionar. O Ministério do Planejamento também negou o pedido de informações.

O que dizem os especialistas

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, os pontos de possível mudança incluem uma tentativa do governo em tornar obrigatório o chamamento público para a prestação de serviços de tratamento da água e esgoto nos mais de 5,5 mil municípios do país.

Atualmente, as prefeituras podem firmar contratos diretamente com as concessionárias estaduais. A abertura de uma concorrência só é necessária caso haja interesse em contratar uma empresa privada.

Crianças andam pela lama e pelo esgoto, em imagem de arquivo (Foto: Emerson Rocha/GE)
Crianças andam pela lama e pelo esgoto, em imagem de arquivo (Foto: Emerson Rocha/GE)

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) Roberval Tavares explica que, se a mudança for efetivada, “haverá mais empresas interessadas na gestão do saneamento de municípios grandes” – considerados “mais rentáveis”. Nas cidades pequenas, a falta de interesse econômico poderia gerar o fenômeno contrário.

“Hoje, no país, os municípios rentáveis sustentam os não rentáveis. Se mudar, vai acabar sobrando para os estados.”

Lógica financeira

Segundo o especialista, a mudança na lei gerará uma “inversão na lógica do subsídio cruzado”. O termo se refere ao modelo tarifário adotado em, pelo menos, 25 estados brasileiros.

A prática adotada pelos prestadores de serviço parte do pressuposto que a maioria da população mais pobre gasta menos água. O valor do metro cúbico (m³) consumido, portanto, aumenta na medida em que o consumo mensal é maior.

“Municípios com menos de 5 mil habitantes não se sustentam sozinhos porque a tarifa que o cidadão paga não consegue arcar com o tratamento de água e esgoto”, explica Tavares. “E menos ainda entregar saúde e qualidade vida à população”.

Tanque de tratamento de água e esgoto (Foto: Reprodução/EPTV)
Tanque de tratamento de água e esgoto (Foto: Reprodução/EPTV)

 

Lei atual

A Lei do Saneamento Básico, publicada em 2007, prevê a universalização dos serviços de abastecimento de água e de tratamento da rede de esgoto no país. Um dos principais pilares é a elaboração de um plano municipal para cada cidade.

Além disso, a lei estabeleceu regras básicas para o setor ao definir as competências do governo federal, dos estados e dos municípios para os serviços, bem como a regulamentação e a participação de empresas privadas. Por conta disso, a expectativa era que a área crescesse exponencialmente com a lei.

No entanto, passados oito anos, dados do SNIS apontavam que em 2015 apenas 50,3% dos brasileiros tinham acesso à coleta de esgoto. Isso significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizavam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios.

Na época da sanção da lei nº 11.445, 42% da população era atendida por redes de esgoto. Até 2015, o índice aumentou 8,3 pontos percentuais – um ritmo inferior a 1 ponto percentual por ano.

Quanto ao abastecimento de água, apesar de a abrangência ser bem superior à de esgoto, a evolução foi ainda mais lenta: passou de 80,9% em 2007 para 83,3% em 2015, um aumento de apenas 2,4 pontos percentuais. Já o índice de esgoto tratado passou de 32,5% para 42,7%.

90% do esgoto em Sarapuí é despejado na natureza, aponta Cetesb (Foto: Reprodução/TV TEM)
90% do esgoto em Sarapuí é despejado na natureza, aponta Cetesb (Foto: Reprodução/TV TEM)

Falta vontade?

Para comentar o porquê dos índices de saneamento serem tão baixos no país, o G1 procurou a Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe). O presidente, Roberto Tavares, destacou que um dos motivos para baixa efetividade do setor é a “insegurança jurídica”. Segundo ele, “não há regras claras na área”.

Outra justificativa para mais de 50% dos municípios estarem sem água tratada ou esgoto a céu aberto seria “ausência de vontade política”.

“Saneamento nunca foi prioridade na pauta nacional. Construir uma estrada e um estádio é fácil, são obras bonitas de inaugurar, mas saneamento não. A falta dele é percebida quando os custos da saúde aumentam”, conclui.

 

Rua comercial de Vicente Pires não tem meio-fio nem calçadas, mas esgoto no meio do caminho (Foto: Luciana Amaral/G1)
Rua comercial de Vicente Pires não tem meio-fio nem calçadas, mas esgoto no meio do caminho (Foto: Luciana Amaral/G1)

Saneamento no DF

Em setembro do ano passado, um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) revelou que o Distrito Federal é a única unidade da Federação a tratar todo o esgoto coletado. Apesar disso, o DF ainda deixa 17% da população fora desse sistema, segundo o relatório.

De acordo com o levantamento, 145,5 toneladas de carga orgânica são geradas, todos os dias, no DF. Dessas, 120,9 são coletadas e tratadas com a infraestrutura de gestão do esgoto. Outras 12 toneladas são coletadas em fossas individuais, e as 12,5 toneladas que sobram não passam por nenhum tipo de recepção.

Considerando esse índice de carga orgânica não coletada, um cálculo simples revela que o Distrito Federal atira mais de 4,5 mil toneladas de esgoto a céu aberto – ou em fossas não declaradas – por ano.

Na época da divulgação do estudo, o superintendente de Operação e Tratamento de Esgotos da Caesb, Carlos Eduardo Borges Pereira, afirmou que o problema maior está nos dados do governo, e não nas ruas.

“A maioria [dessas toneladas] é de fossas que as pessoas não declaram nas pesquisas. A maior parte do esgoto que a gente vê na rua é quando a fossa enche e vaza.”

Fonte: G1

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