As águas subterrâneas representam um importante recurso, com 98% da água doce líquida do mundo. Elas foram o tema do Dia Mundial da Água (22/03) deste ano e também são destaque no Ano Internacional das Águas Subterrâneas, celebrado em 2022.
As águas “invisíveis” fornecem quase metade de toda a água potável do mundo. No entanto, países precisam que elas sejam naturalmente limpas para que sejam economicamente inviável.
Responsável por ajudar os países a medir e a melhorar a qualidade da água, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) tem desenvolvido novas metodologias para superar o desafio de avaliar a qualidade das águas subterrâneas.
A Cidade do Cabo, na África do Sul, depende fortemente das águas subterrâneas devido ao rápido crescimento da população. Mas uma das maiores fontes deste recurso presente sob a cidade, a qual vem chamando atenção devido à diminuição do abastecimento de água, corre um grande risco de ser poluída.
O escoamento de pequenas fazendas, aterros, cemitérios, fábricas e assentamentos informais tem o potencial de se infiltrar no aquífero Cape Flats, que fica sob grande parte da cidade, de acordo com um estudo recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Cidade do Cabo não é a única cidade grande que está enfrentando a contaminação das águas subterrâneas. Centros urbanos de países desde o Paquistão até os Estados Unidos têm visto nos últimos anos a poluição se infiltrar em aquíferos importantes, potencialmente ameaçando o abastecimento hídrico de milhões de pessoas.
“As águas subterrâneas sempre foram extremamente importantes, mas não são totalmente reconhecidas no processo de elaboração de políticas de desenvolvimento sustentável. A exploração, proteção e o uso sustentável dos aquíferos subterrâneos, bem como de outros ecossistemas de água doce, será fundamental para sobreviver e se adaptar às mudanças climáticas, conservar os ecossistemas e atender às necessidades de uma população crescente”, afirma a chefe da Seção Marinha e de Água Doce do PNUMA, Letícia Carvalho.
O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, destaca esse recurso oculto que armazena 98% da água doce líquida do mundo — as águas subterrâneas.
Esconderijo subterrâneo – A água doce, por mais que possa representar uma porção relativamente pequena do abastecimento mundial de água, tem uma grande importância para a saúde humana e dos ecossistemas. No entanto, a maior parte dela não é facilmente encontrada: uma grande parcela está confinada nas geleiras e na neve e apenas 1,2% está presente em corpos d’água, incluindo as zonas úmidas. O restante — cerca de 30% — está armazenado debaixo da terra em câmaras de rochas ou argila, denominadas aquíferos.
A água subterrânea presente nos aquíferos é geralmente considerada pura.
Entretanto, os aquíferos são recarregados pela chuva que, se misturada com poluentes solúveis, tais como gasolina ou fertilizantes, pode infiltrar-se nas rochas porosas e poluir as águas subterrâneas. Por ser filtrada através das rochas, essa água também pode conter naturalmente grandes quantidades de minerais, tais como o flúor ou o arsênico, que podem ser prejudiciais à saúde humana.
Isso é um problema sobretudo nos países em desenvolvimento. Muitos países dependem de águas subterrâneas que sejam naturalmente limpas, pois o tratamento avançado da água é economicamente inviável, de acordo com uma publicação do grupo de especialistas “Friends of Groundwater” (“Amigos das Águas Subterrâneas”) da World Water Quality Alliance, fundada pelo PNUMA e pela Comissão Europeia em 2019.
Nas profundezas – O PNUMA tem um mandato global para ajudar os países a medir e a melhorar a qualidade da água, inclusive por meio da liderança do Programa no desenvolvimento da Avaliação Global da Qualidade da Água e no monitoramento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados à qualidade da água e à saúde dos ecossistemas aquáticos.
Embora seja relativamente fácil verificar a qualidade da água dos lagos e rios, avaliar a qualidade das águas subterrâneas “invisíveis” traz desafios.
Para desenvolver o estudo do PNUMA na Cidade do Cabo, os pesquisadores usaram imagens aéreas e de satélite para mapear os pontos ativos onde há potencial de poluição. Esses dados, combinados com as medições feitas em campo e a modelagem numérica, possibilitaram aos pesquisadores traçar o fluxo das águas subterrâneas e prever a qualidade delas em cenários futuros.
Esta “triangularidade” foi uma conquista significativa que pode ajudar a orientar uma resposta à poluição no aquífero do Cabo Flats, explica a coordenadora da World Water Quality Alliance, Nina Raasakka.
Um problema crescente – De acordo com a World Water Quality Alliance, as águas subterrâneas fornecem quase metade de toda a água potável e 43% da água utilizada para irrigação no mundo.
Especialistas consideram que a preservação da qualidade das águas subterrâneas é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente aqueles relacionados à água (ODS 6), à saúde (ODS 3) e à produção de alimentos (ODS 2).
Isso é verídico particularmente em meio a um clima em mudança. Em algumas regiões áridas e semiáridas, as secas podem fazer das águas subterrâneas o único recurso hídrico confiável.
Mas os próprios aquíferos não são imunes à crise climática. Enchentes mais frequentes e intensas associadas à mudança climática podem levar à lavagem de mais matéria fecal e produtos químicos tóxicos para os aquíferos subterrâneos (especialmente os poços rasos e mais vulneráveis), ao passo que, a longo prazo, o aumento do nível do mar pode aumentar a salinidade das águas subterrâneas costeiras.
A Cúpula da UN-Water sobre Águas Subterrâneas, em dezembro de 2022, e o Ano Internacional das Águas Subterrâneas, também celebrado este ano, visam chamar a atenção para este tema no mais alto nível internacional, destacando ao mesmo tempo o papel central da água doce no combate às crises do clima, da biodiversidade e da poluição.
Fonte: ONU BRASIL
https://brasil.un.org/pt-br/175838-pnuma-desenvolve-metodologias-para-medir-qualidade-de-aguas-subterraneas