A região de América Latina e Caribe deve promover uma transição profunda para a agricultura sustentável se quiser erradicar a fome e preservar os recursos naturais que sustentam a segurança alimentar para as gerações atuais e futuras, afirmou a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Na América Latina e no Caribe, há 60 milhões de agricultores familiares. Foto: Flickr/Secom/Mateus Pereira
Ministros da agricultura e autoridades da região reuniram-se na semana passada (23) em Lima, no Peru, para fortalecer os esforços regionais de transição para uma agricultura plenamente sustentável.
A região de América Latina e Caribe deve promover uma transição profunda para a agricultura sustentável se quiser erradicar a fome e preservar os recursos naturais que sustentam a segurança alimentar para as gerações atuais e futuras, afirmou a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Ministros da agricultura e autoridades da região reuniram-se na semana passada (23) em Lima, no Peru, para fortalecer os esforços regionais de transição para uma agricultura plenamente sustentável.
Segundo a FAO, América Latina e Caribe respondem por cerca de 10% da produção agrícola mundial, mas enfrenta importantes desafios para melhorar a sustentabilidade do setor agrícola.
A reunião também fortalece a implementação do Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), o principal acordo regional de erradicação da fome, que incorpora a agricultura sustentável como um de seus princípios.
O encontro permitirá que os governos estabeleçam estratégias conjuntas para fomentar o uso sustentável dos recursos naturais, enfrentar a mudança climática e a gestão de riscos de desastres, processos que a FAO apoia através de uma de suas três iniciativas regionais prioritárias.
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
A meta número 12 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) promove o consumo e a produção sustentável. Para o setor agrícola, isso apenas será possível por meio de uma agricultura sustentável que permita um desenvolvimento rural inclusivo socioeconomicamente, utilizando os recursos naturais de forma responsável.
“A agricultura sustentável conserva a terra, a água e os recursos genéticos vegetais e animais, não degrada o ambiente e é tecnicamente apropriada, economicamente viável e socialmente aceitável”, explicou Jorge Meza, encarregado da iniciativa regional da FAO sobre uso sustentável dos recursos naturais, adaptação à mudança climática e gestão dos riscos de desastres.
Segundo Meza, a agricultura sustentável é, por sua vez, a resposta do setor agrícola ao desafio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Desafios para alcançar a agricultura sustentável
A cada ano, a região da América Latina e Caribe desperdiça cerca de 34% de seus alimentos, o suficiente para alimentar 37% das quase 800 milhões de pessoas com fome em todo o mundo. “Em média, a cada dia até 348 mil toneladas de alimentos acabam em aterros sanitários na região”, disse Meza.
Segundo ele, os governos da região têm reagido com uma estratégia e uma aliança regional para a prevenção e redução de perdas e desperdício de alimentos que visa a reduzir para a metade o desperdício alimentar até 2030.
A região é também uma das mais ricas do mundo em termos de recursos naturais. Com apenas 8% da população mundial, tem 23% das terras potencialmente aráveis e 12% da terra cultivada atualmente.
No entanto, a rápida exploração de minérios, gás, florestas e pastagens vêm provocando mudanças drásticas no uso da terra e degradação: no momento, a região enfrenta 14% da degradação do solo global.
Segundo a FAO, as três principais ameaças para os solos de América Latina e Caribe são erosão, perda de carbono orgânico e salinização.
“Enquanto o desmatamento tem diminuído nas últimas décadas , a região ainda tem a segunda maior taxa em todo o mundo, e a cada ano mais de 2 milhões de hectares de florestas são perdidos”, disse Meza.
Quanto à água, enquanto a América Latina e o Caribe recebem 29% das chuvas no planeta, a região também tem os lugares mais secos do mundo e, nas últimas três décadas, a extração de água dobrou, a uma taxa muito acima da média mundial, a maior parte utilizada na agricultura.
Quanto à biodiversidade, sete dos 25 lugares do mundo com as maiores concentrações de espécies endêmicas estão na região, que também abriga a maior base de recursos genéticos para milho, batata, mandioca, batata doce, tomate, feijão, amendoim e abóbora.
No entanto, a região enfrenta um processo de erosão fito e zoo genético diante da expansão da fronteira agrícola e da utilização do solo por apenas algumas espécies.
“As espécies nativas e as variedades tradicionais são abandonadas e se promove a monocultura e a pecuária extensiva, o que empobrece a dieta das populações locais”, explicou Meza.
Cinco princípios para uma agricultura sustentável
Segundo a FAO, o primeiro princípio para a agricultura sustentável é o uso mais eficiente dos recursos. Basicamente, fazer mais com menos. O segundo princípio refere-se à necessidade de uma ação direta para conservar, proteger e melhorar os estoques de recursos naturais.
“Os governos devem apoiar suas populações, através de políticas de gestão de terras rurais agroambientais e de agroecologia e modelos alternativos de desenvolvimento rural sustentável, estimulando a recuperação de áreas degradadas”, disse Meza.
O terceiro princípio proposto pela FAO refere-se à necessidade de a agricultura proteger os meios de subsistência rurais e melhorar a equidade e o bem-estar rural. O quarto princípio refere-se à necessidade de aumentar a capacidade de resistência dos indivíduos, das comunidades e sistemas alimentares.