Falta de saneamento básico tem impacto direto na sala de aula

Um grupo de economistas calculou quanto o Brasil perdeu com a corrupção nos últimos 30 anos.

O desvio de dinheiro de obras de saneamento básico, por exemplo, tem impacto direto na sala de aula. É o que mostra a repórter Tatiana Nascimento.

Pode não parecer, mas isso aqui é um rio. Depósito para todo o tipo de lixo.

Curicica, bairro da Zona Oeste do Rio, uma das principais ruas. O acesso às casas é feito por pontes improvisadas de madeira. A gente está falando de uma comunidade inteira sem rede de esgoto. Tudo é jogado diretamente no rio.

“É tanta coisa que passa aí dentro que parece que eles esperam o rio encher pra ir jogando. É muita coisa aí. E não é legal não”, disse a dona de casa Luciene Venturini.

E o esgoto é um perigo, principalmente para quem não tem a menor noção disso.

A criança brincando, é normal que ela ponha a mão na terra. De repente essa mão vem à boca. São várias as possibilidades de contaminação com a água do esgoto. O que muita gente não sabe é a consequência grave que isso pode ter na vida dessa criança.

Uma creche funciona bem perto do rio.

“Tem criança que passa o ano inteiro apresentando diarreias repetidas, né? Às vezes nem vêm à creche, né? Não vêm”, Sabrina Batista, diretora-adjunta da creche Augusto Torres.

Diarreia, vômitos afetam a nutrição da criança, e se isso acontecer com frequência nos primeiros três, cinco anos de vida, as sequelas podem ser limitadoras e definitivas.

“Ela vai ter uma baixa oferta proteica e com isso uma piora na formação, no desenvolvimento cerebral. Mesmo que depois dos cinco anos ela passe a ter uma alimentação adequada ou diminua essas infecções, ela não consegue recuperar essa capacidade perdida, pelo menos completamente”, Alberto Chebabo, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro.

As filhas de Tatiane convivem com esse perigo.

Diarreia é um problema comum para as meninas?

“Aqui é, pra elas sim”.

E quando elas têm esse problema, geralmente dura quanto tempo?

“Uma semana, duas semanas”.

É uma realidade que vai na contramão do desenvolvimento.

“Você tenta buscar alguma coisa… “não, o governo tá sem dinheiro, ah, tá em crise”, tudo tá em crise, mas a vida aqui continua. As pessoas continuam a viver aqui. As crianças continuam a conviver com isso aqui. Então é realmente é muito revoltante”, diz Núbia Corrêa, coordenadora da Comissão de Meio Ambiente de Jacarepaguá.

A Núbia faz trabalho ambiental voluntário e sabe que a situação podia está bem melhor.

O projeto para recuperar as lagoas e rios dessa região está sendo investigado pela Lava Jato.

O ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto foi preso no início de agosto acusado de receber propina do consórcio responsável pelos trabalhos.

Esse é só um dos vários casos de corrupção que viraram notícia nos últimos anos.

Um grupo de economistas resolveu calcular o tamanho do desvio de dinheiro no Brasil e o que poderia ser feito com ele.

A equipe somou os gastos dos governos federal, estadual e municipal nas últimas três décadas. Usou dados oficiais, dos tribunais de contas, por exemplo, e fez uma pesquisa de mercado para chegar a uma média de superfaturamento em obras e investimentos.

O resultado é assustador: R$ 1,5 trilhão, corrigidos pela inflação.

Segundo os economistas, esse dinheiro daria para garantir educação pra crianças e adolescentes, com ensino integral até os cinco anos de idade, serviços de água, esgoto e moradia para a toda a população. E ainda atendimento básico de saúde para mães e filhos.

Se esse dinheiro tivesse sido aplicado na poupança nesse período, daria para construir tudo isso e manter os serviços por 12 anos. Parece exagero?

“Eu diria que os números do nosso estudo, na verdade, estão subestimados. Nós fizemos números assim bastante conservadores porque nós sabemos que os desvios em muitos e muitos casos foram acima dos parâmetros, das variáveis que nós calculamos, digamos assim”, explicou o economista Cláudio Frischtak.

Um dinheiro que faz muita falta e que foi jogado fora como o esgoto no rio.

“É um desperdício que vai para o ralo e esse desperdício nós não vemos mais. Agora, se nós tomarmos ciência do custo que isso é para o país, aí nós vamos tomar mais medidas, vamos pressionar os gestores públicos, os políticos para agirem de uma forma um pouco diferente nos próximos anos, que é o que nosso país precisa”, concluiu ele.

O JN não conseguiu contato com a defesa do ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto.

Fonte: Portal Saneamento Básico

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