Projeto publica mapas mensais que permitem acompanhar a evolução de estiagens em diferentes áreas da região. Iniciativa quer fornecer informações precisas para que as autoridades consigam agir de forma preventiva, evitando agravamento de crises.
Projeto dos governos federal e estaduais – com apoio do Banco Mundial – quer garantir que políticas públicas voltadas para as secas também foquem em prevenção e planejamento. Foto: PNUD Brasil / Tiago Zenero
Com apoio do Banco Mundial, uma iniciativa do governo federal em parceria com os estados do Nordeste quer mudar o olhar convencional que Brasil e mundo têm sobre a seca na região. Lançado no final do mês passado, o Monitor de Secas do Nordeste Brasileiro disponibiliza mapas mensais que acompanham a evolução das estiagens nos nove estados.
O objetivo do projeto é fornecer informações precisas para as instituições do Brasil, que poderão agir de modo preventivo e continuado, além de traçar políticas públicas coordenadas.
Os mapas produzidos contêm indicadores que expressam cinco níveis de gravidade das secas, alertando para fenômenos extremos, mas permitindo principalmente a previsão de estiagens mais severas.
“É uma mudança de modelo para um país que sempre encarou as secas como uma fatalidade”, afirmou o diretor-presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima – uma das parceiras do programa –, Marcelo Asfora.
Mapas semelhantes são usados nos Estados Unidos, no México e na Espanha, países que inspiraram o Monitor do Nordeste. Com a iniciativa, o Brasil pode se tornar um exemplo para a América Latina e o mundo ao mostrar como é possível integrar dados e instituições. O Monitor de Secas recebeu apoio também do Fundo Espanhol para a América Latina (SFLAC).
[video:https://youtu.be/IzT1xF4QaLA]
“Nos países em desenvolvimento, é comum as agências coletarem certos tipos de informações e guardá-las para si mesmas”, explicou o climatologista norte-americano Donald Wilhite, que prestou assessoria ao projeto brasileiro desde sua concepção, em 2013.
O especialista criticou a maneira como as autoridades de todas as nações, em desenvolvimento ou não, vinham encarando o problema das estiagens. “Elas demoraram demais para tomar providências concretas, e isso tem a ver com a própria natureza das secas”, avaliou Wilhite.
Como esses fenômenos em geral não causam danos na infraestrutura e se desenvolvem de forma lenta, os formuladores de políticas públicas tendem a ignorar os impactos nas pessoas e no meio ambiente, segundo o climatologista.
Ao longo do último século, porém, estimativas indicam que estiagens afetaram 2 bilhões de pessoas e mataram 11 milhões em todo o mundo.
Prevenir a devastação causada pelas secas é possível por meio de projetos como o Monitor de Secas, além de ser fundamental frente à ameaça crescente das mudanças climáticas. De acordo com o relatório “Diminuir o Calor”, elaborado pelo Banco Mundial em 2012, “o Nordeste brasileiro sofre particularmente os impactos das secas associadas ao fenômeno El Niño, que podem se tornar mais frequentes em um planeta 4°C mais quente”.
Fonte: ONU Brasil