Tragédia da lama matou 98 tipos de peixe no Rio Doce

Um ano após o desastre, relatório inédito da Polícia Federal mostra o efeito devastador dos rejeitos de minério para os animais aquáticos e também para as aves

Um relatório da Polícia Federal mostra, um ano depois da tragédia, os efeitos devastadores que a lama da barragem da Samarco ainda continua provocando em toda a extensão do Rio Doce. Em vários pontos o rio está muito sujo, com a turbidez extremamente elevada, o que já provocou a morte de 98 espécies de peixes, sendo que 13 dessas espécies só vivem no Rio Doce, e 11 delas já estavam em risco de extinção. As informações foram obtidas com exclusividade pela TV Gazeta e exibidas ontem em reportagem do Fantástico.

Os animais morreram asfixiados. “Eles praticamente não têm área livre da brânquia para respirar. A brânquia dele é como se fosse pra gente os nossos pulmões. Normalmente, é um vermelho róseo. Bem vivo”, explica o perito da PF Rodrigo Ribeiro Mayrink. Mais de 29 mil carcaças de peixes foram recolhidas depois que a lama passou. Os investigadores eram os únicos com acesso ao epicentro do desastre. Eles coletaram amostras com um helicóptero do Corpo de Bombeiros.

Mas a lama não matou só peixes. Ela tirou a vida de andorinhas-do-mar, que não conseguiam mais encontrar peixes na água porque a lama escureceu o mar da praia da Regência. Com isso, as andorinhas não encontraram mais o alimento. “Nós fizemos exames de necropsia nesses animais e percebemos que todos estavam de estômago vazio. Resumidamente, morreram de fome”, afirma o perito.

Os laudos da PF também mostram muitos estragos na vegetação. Uma área de 1.176 hectares foi destruída ao longo do rio. Desse total, 46% serviam para a criação de animais, 43% eram Mata Atlântica, com vegetação nativa da região. “O impacto foi muito severo e vai demorar anos para ser completamente recuperado”, revela o perito.

Mais de 29 mil carcaças de peixes foram recolhidas depois do desastre. Pesquisador da ONG SOS Mata Atlântica (destaque) recolhe amostras de água para testes de turbidez do rio. Foto: internauta Jovander Pito

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Mais de 29 mil carcaças de peixes foram recolhidas depois do desastre. Pesquisador da ONG SOS Mata Atlântica (destaque) recolhe amostras de água para testes de turbidez do rio. Foto: internauta Jovander Pito

 

 

Água
A reportagem do Fantástico acompanhou também a expedição da ONG SOS Mata Atlântica para mostrar a qualidade do rio um ano depois. Os especialistas medem a quantidade de oxigênio e a turbidez, ou transparência, da água. Há locais que o oxigênio é zero, segundo Malu Ribeiro, coordenadora da entidade.

Em relação à turbidez, quanto mais partículas sólidas, maior o nível de turbidez. A legislação ambiental permite um índice de até 100 partículas por litro. Acima disso, a água está imprópria para qualquer uso. No ano passado, um mês depois da tragédia dos 16 pontos visitados, 14 foram considerados impróprios para uso direto, sem tratamento. Este ano, de 17 pontos visitados, 14 ainda não podem ser usados, segundo os pesquisadores. Em Barra longa, em Minas Gerais, está o ponto com maior nível de turbidez atualmente.

Está quase 50 vezes acima do que a legislação permite. “Nós podíamos vir aqui antes do acidente nadar, pescar, dar essa água para o gado, para a galinha. Para a produção de alimentos. Isso a gente ainda não pode fazer”, afirma Malu Ribeiro.
Na cidade de Rio Doce, também em Minas, a turbidez atual está 38 vezes acima do permitido. Mas na época do desastre os números eram alarmantes, cerca de 8 mil vezes maior que o aceitável. Esse trecho até a usina Risoleta Neves foi o mais devastado pela lama, segundo os laudos da Polícia Federal que ajudaram na denúncia contra os responsáveis pelo crime. (Com informações de Mário Bonella).
Fonte: Gazeta Online

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