Ao todo, 676 fontes catalogadas não têm mais água na região
Na busca pela preservação e recuperação das nascentes da Grande Vitória, algumas iniciativas municipais unem forças, incluindo até estudantes da rede pública e revertendo valores que empresas devem às prefeituras em investimentos ambientais. Essas ações têm transformado lixões em área de lazer com belas paisagens.
É o caso do município de Cariacica, que ainda dá os primeiros passos no mapeamento de suas nascentes, mas que transformou, em cinco meses, um ponto viciado de lixo no bairro São Conrado em um parque municipal. Com uma área de 10.400 metros quadrados, o Parque Linear Municipal de São Conrado possui dois lagos, pista de caminhada de 650 metros, minipraça e bancos de pedra. Antes da recuperação, cinco nascentes quase morreram debaixo de entulho e lixo.
O investimento de R$ 250 mil era, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente, Claudio Denicoli, uma dívida que uma empresa tinha com a prefeitura. “Uma resolução do Conselho Municipal de Meio Ambiente, aprovada por unanimidade, permite que dívidas de empresas sejam revertidas em ações em favor do meio ambiente”, explica.
Em Viana, onde 200 mil mudas nativas, tais como amburana, ipê-rosa e ipê-amarelo, jequitibá-branco, açaí, juçara e cupuaçu, foram plantadas desde 2014, segundo Secretário de Agricultura Ledir Porto, até os estudantes da rede municipal têm participado da produção e plantio de mudas.
Em agosto deste ano, as crianças do projeto Força no Esporte, do 38º Batalhão de Infantaria,
também participaram das ações de recuperação de nascentes no município, que conta com o Programa Reflorestar Viana que oferece mudas, suporte técnico e outros materiais utilizados em recuperação.
O programa é uma parceria entre o município, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) com a mão de obra de presos em processo de recuperação.
O Reflorestar Viana tem ação semelhante ao programa Reflorestar do governo do Estado, que já cadastrou 4.500 nascentes em 73 municípios. Desse total, 2 mil são acompanhadas. “Temos dado muita atenção às dos rios Jucu e Santa Maria da Vitória que abastecem a Grande Vitória, oferecendo suporte técnico, material e acompanhando de perto”, diz o diretor-técnico do Incaper Mauro Rossoni Junior.
“Governo deve represar nascentes perenes”
As nascentes da Grande Vitória que sobreviveram ao longo período de estiagem devem ser utilizadas pelo poder público para abastecimento humano. É o que defende o presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), Claudio Pereira de Oliveira.
“Cada caso deve ser analisado individualmente, mas se a nascente continua jorrando mesmo depois de tanta estiagem significa que o manancial subterrâneo está cheio. Essa água deve ser utilizada sim”, defende.
E sua utilização pode ser feita por meio da construção de barragens para represamento ou da perfuração de poços artesianos, de acordo com ele.
Oliveira ressalta que, embora em algumas regiões a potencialidade dos aquíferos não superem as expectativas, o poço é uma obra que dá acesso aos mananciais subterrâneos, onde há muito mais água.
“Se está saindo bastante água é porque há muita no subsolo, tanto que está transbordando. Quando o órgão gestor proíbe a perfuração de poços, é porque teme que a captação seque tudo, mas os reservatórios são enormes”, garante.
Oliveira lembra também a importância de se avaliar a qualidade da água captada nessas fontes, pois em área urbana a qualidade é geralmente afetada. “Mas pode passar por tratamento e vale ressaltar que toda água, por lei, deve ser priorizada para o abastecimento humano”, conclui.