Engenheiro francês que recuperou Rio Sena faz sobrevoo no Rio Doce

Marc Collet coordenou a recuperação e despoluição do Rio Sena.

"Quanto mais uma empresa polui, mais ela deve pagar", disse o engenheiro.

 

O engenheiro francês Marc Collet, que coordenou a recuperação e despoluição do Rio Sena, realizou, nesta segunda-feira (14), um sobrevoo no Rio Doce, atingido pela lama de rejeitos da Samarco, cujos donos são a Vale e anglo-australiana BHP Billiton.

Ao jornal A Gazeta, o especialista disse que a recuperação do Rio Sena foi financiada pelos próprios poluidores. "Criamos uma taxa: quem polui mais, paga mais", explicou.

Marc Collet está no Espírito Santo para participar de um seminário que vai reunir especialistas e autoridades para fazer um balanço da situação da água no Brasil e no mundo nos últimos 10 anos.

O "Balanço da Década da Água" vai debater ações e conhecer soluções para os desafios provocados pela crise hídrica no Espírito Santo.

O evento acontece nesta terça-feira (15), no cerimonial Vitória Grand Hall, em Santa Luíza, atrás da Emescam, em Vitória. As inscrições já foram encerradas.

Lama

A barragem de Fundão se rompeu no dia 5 de novembro, derramando cerca de 35 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração. O desastre ambiental, considerado o maior do Brasil, destruiu casas, devastou o Rio Doce, atingiu o litoral do Espírito Santo e vitimou 19 pessoas, entre mortos e desaparecidos.

Na segunda-feira (7), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) informou que a extensão dos rejeitos no mar era de 57 km em direção ao Norte. Já ao Sul, a lama avançou 17,5 km. E mar adentro, 18 km. A área total de propagação dos rejeitos é de 230 km2.

Rio Sena

Um dos rios mais importantes da Europa e que banha uma das principais cidades do mundo, já foi dado como morto.

Considerado estéril, o rio que corta Paris vinha sofrendo há centenas de anos com o esgoto das casas, a poluição das indústrias e o uso extensivo na agropecuária.

Na época, apenas quatro espécies de peixes eram encontradas nadando nas águas turvas e malcheirosas do Sena. "A situação do Sena antes de sua reconquista era particularmente terrível", admitiu Collet.

Quase meio século depois do início do processo de despoluição, cerca de 30 espécies nativas de peixes já foram observadas por cientistas.

Confira a entrevista do Jornal A Gazeta com o engenheiro francês:

Quando começou o processo de despoluição do rio Sena?

O processo de despoluição do rio Sena começou depois da lei de 1964. Não é possível dizer que o rio hoje está totalmente despoluído. Inclusive, alguns agentes poluentes podem continuar a contaminar o rio durante anos. No entanto, a qualidade da água do rio Sena tem melhorado significativamente nas últimas décadas e continua melhorando em vários critérios.

Qual era a situação do rio antes?

A situação do Sena antes de sua reconquista era particularmente terrível, o rio estava muito poluído. Por exemplo, na região de Paris, apenas quatro espécies nativas de peixes existiam nas águas turvas em 1965, hoje existam cerca de trinta e cinco espécies.

O processo todo durou meio século e continua até hoje. A poluição gerada pelas comunidades, indústria e agricultura nunca cessam totalmente e novos tipos de poluição, ignorados por décadas, são hoje motivo de preocupação como disruptores endócrinos, produtos farmacêuticos etc. Portanto, é necessário manter-se vigilante e continuar o esforço de controle de poluição e também a prevenção.

Algum acontecimento em particular fez os governo Francês se atentar para a necessidade de despoluição do rio?

Houve uma série de eventos que serviram de alerta, mas o que levou o governo a agir foi principalmente a sensação de que a poluição foi tomando cada vez mais espaço e tornando cada vez mais difícil de conciliar os diferentes usos da água.

A necessidade de água potável para alimentar a população, a melhora na saúde pública, o desenvolvimento da indústria e da agricultura, a necessidade do lazer e a proteção de ambientes aquáticos foram alguns dos fatores que levaram a querer proteger os recursos hídricos a longo prazo e preservar ambientes aquáticos.

De onde veio o dinheiro para a despoluição?

A princípio o governo Francês precisava despoluir mas não tinha de onde retirar o dinheiro. O dinheiro foi captado a partir do princípio do poluidor-pagador. Antes, não se pagava pela poluição, não se pagava pela destruição da natureza.

O fato de existir uma taxa sobre o esgoto foi o que permitiu a construção de estações de tratamento, barragens de retenção para as usinas, e é o que permite de ter dinheiro para a manutenção de todo esse sistema.

Os principais pagadores dessa taxa são as indústrias. Enquanto uma empresa polui, ela vai pagando a taxa de poluição cada vez mais cara. Esse dinheiro vai para quem despolui. Por isso, é um sistema que se "auto-financia", é um circuito fechado, o dinheiro arrecadado com a taxa, financia os esforços de despoluição.

Só na bacia do rio Sena, que é aproximadamente do tamanho da bacia do Rio Doce, nós arrecadamos 1 bilhão de euros por ano. Esse dinheiro é todo revertido em investimentos e manutenção da rede de despoluição.

Como funciona o princípio do poluidor-pagador?

É um dos três pilares da lei de gestão de águas da França e é muito simples: quando você polui a água, você deve pagar uma taxa relativa a quantidade de poluição gerada. Quanto mais uma empresa polui, mais deve pagar, o mesmo vale para agricultores ou cidadãos.

O pagamento é incluso na fatura de água e vai direto para a agencia reguladora. Na França, além de pagar pelo fornecimento de água e pela coleta do esgoto, eu devo pagar pela poluição que eu jogo na natureza.

Quais ações foram tomadas para melhorar a bacia do rio Sena?

Muito tem sido feito em todas as áreas para proteger rios, o lençol freático, a costa e o mar. Os maiores investimentos foram realizados nas estações de tratamento de esgoto da população e nas barragens industriais para lutar contra a poluição água.

O senhor ficou sabendo da tragédia ocorrida em Mariana e na bacia do Rio Doce?

O desastre ecológico no Rio Doce não me deixa indiferente, especialmente porque meus amigos brasileiros me informaram do tamanho da catástrofe.

Já houve algo parecido na França?

Nos últimos 30 anos, a França não passou por uma situação que se pareça com esta, com este tipo de poluição. No entanto, a poluição do Reno causada pelas instalações químicas e agroquímicos Sandoz perto de Basel, na Suíça, em novembro de 1986, se assemelha no tipo de poluição.

Na época, todos os países que fazem fronteira com o Reno, incluindo a França, foram contaminados com poluição por pesticidas. Além disso, mais recentemente, na Europa, houve a poluição da fábrica de Ajka na Hungria em outubro de 2010 no rio Danúbio, outro caso que tem semelhanças com o desastre de Doce.

Nesses acidentes europeus, o que foi feito?

As empresas foram condenadas pela poluição e tiveram que pagar grandes indenizações. Elas foram obrigada a reparar os danos aos meio ambiente o quanto foi possível e houveram leis que se reforçaram para evitar que outros desastres aconteçam.

Foi criada uma regulamentação em toda a Europa para o funcionamento de usinas químicas.Não só a usina onde houve o acidente teve que reforçar suas medidas de segurança mas todas as usinas europeias.

Marc Collet coordenou a recuperação do Rio Sena,

na França (Foto: Divulgação)

Viviane Machado, Gabriela Ribeti e Natalia Bourguignon

Fonte:

Do G1 ES, da TV e de A Gazeta

 

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